Não adianta acusar Amizade Colorida de plagiar Sexo sem Compromisso. Bem antes desses dois longas, muitos outros abordaram o tradicional tema da relação sexual sem afeto ou dos limites da transa sem envolvimento emotivo.
Amizade Colorida não parece, sequer, ambientado no mundo real, mas sim dentro de um mundo paralelo chamado cinema. As situações pelas quais passam os personagens de Justin Timberlake e Mila Kunis reverberam na longa tradição de comédia romântica do cinema americano.
Não é à toa, então, que acima da cama do rapaz esteja pendurado um cartaz de Aconteceu Naquela Noite, filme que Frank Capra, americano por excelência (mesmo tendo nascido na Itália), fez em 1934. Claro que Will Gluck não é Capra – e nem é a pretensão deste texto colocá-lo no mesmo patamar –, mas está claro que a tentativa de falar não só a um público interessado numa história de amor água com açúcar e supostamente moderna, mas ironizar seus pares, os realizadores que por muitas décadas repetiram (e repetem) os mesmos enredos e convenções... (continua)
Por isso o gesto permanente de Amizade Colorida em ironizar todos os clichês. Timberlake e Mila interpretam amigos que se identificam logo de cara, mas decidem separar sexo de afeto, comparando suas vidas com os retratos de casais em comédias românticas. Brincam, assim, com todos os clichês e praticamente convocam o espectador a participar do jogo irônico.
Nisso, sem dúvida temos um filme interessante. Por outro lado, se faz dos clichês das comédias românticas o principal alimento, Amizade Colorida também sucumbe a eles. Isso mostra que em vez de bater na tradição, o filme quer é se inserir nela, ganhar um selo de respeitabilidade, mesmo que mascare suas intenções com as piadas.
Humor e interação
Não falta senso de humor ao longa. Méritos especialmente à perspicácia dos diálogos e situações escritas pelo trio Will Gluck, Keith Merryman, David A. Newman. Os louros também devem ser divididos com uma direção eficiente de atores, que ajudou o casal protagonista Justin Timberlake e Mila Kunis a vivenciar bons momentos de diversão.
Há um vácuo, porém, entre a interação dos protagonistas e a eficiência dos diálogos com a direção e o que a câmera conta. É assustador esse entendimento do cinema de entretenimento que abdica de qualquer tentativa em narrar pelos enquadramentos, encenação etc. Nesse sentido, a direção é medíocre na mesma intensidade de Quero Matar Meu Chefe.
Além de ser um filme, Amizade Colorida tem uma espantosa habilidade marqueteira de incutir no hábito social gestos que vem da propaganda ou do consumo tecnológico recente. Por exemplo, apresentar os créditos com uma mão que manuseia os nomes como se estivesse numa tela de iPhone. Este filme de Will Gluck é também um paradigma de product placement, conhecido como merchandising aqui no Brasil.
Até a primeira metade, Amizade Colorida se sai muito bem brincando com Hollywood e até com Katherine Heigl em A Verdade Nua e Crua. Já na segunda metade, o filme se enquadra como uma típica comédia romântica, recuperando-se em momentos pontuais (como a vívida participação de Richard Jenkins).
Resumindo: irregular, divertido no texto e fraco como cinema.
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