31 maio 2007

Análise >> Piratas do Caribe - No Fim do Mundo (Pirates of The Caribbean: At World's End)

Em time que está ganhando não se mexe e Piratas do Caribe – No Fim do Mundo não vai contra esse sábio dito popular. A aventura baseada em atração da Disneylândia traz todos os elementos que fizeram da franquia uma das mais milionárias da história do cinema: o humor, os toques de suspense e sobrenatural, as eletrizantes cenas de ação e os efeitos especiais de cair o queixo estão no terceiro filme da série. No entanto, em doses mais homeopáticas, digamos, já que neste terceiro filme o espectador não é tão "bombardeado" pela ação como acontece no segundo filme; há mais espaço para o desenvolvimento da complexa trama e dos personagens.

Logo no começo, Piratas do Caribe – No Fim do Mundo já mostra que pretende dar mais foco aos personagens que acompanham Jack Sparrow (Johnny Depp) em suas aventuras bucaneiras. Vendo que o Lorde Cutler Beckett (Tom Hollander) pretende acabar com todos os piratas do mundo, que estão sendo executados "aos baldes", Elizabeth Swann (Keira Knightley de "Orgulho e Preconceito") e o capitão Barbossa (Geoffrey Rush) viajam a Cingapura para encontrar Sao Feng (Chow Yun-Fat de "O Tigre e o Dragão"). Ele é o detentor dos mapas que levam ao Fim do Mundo, onde se encontra Sparrow, preso no navio fantasma Flying Dutchman por conta da dívida que tem de pagar a Davy Jones (Bill Nighy). Também acompanhados por Will Turner (Orlando Bloom), partem em busca do salvamento de Sparrow, um dos nove Lordes da Corte da Irmandade bucaneira, um grupo que reúne os principais piratas de todos os mares do mundo. Juntos, eles podem salvar os piratas da destruição total...

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Na produção que encerra a trilogia, a balança pende mais para o drama e o romance: há tramas envolvendo as traições bucaneiras – afinal, piratas são pouco confiáveis -, mas também há espaço para uma crise no romance entre Elizabeth Swann (Keira Knightley) e Will Turner (Orlando Bloom). A transformação da personalidade de Elizabeth é a que fica mais evidente: se no primeiro filme ela era uma donzela indefesa, nesta produção ela é uma verdadeira pirata, usando as calças e os chapéus típicos dos piratas. O capitão Barbossa (Geoffrey Rush) e Tia Dalma (Naomie Harris) também ganham mais destaque na história, especialmente a segunda. O posto de vilão nesta terceira aventura é ocupado não somente por Davy Jones (Bill Nighy), que vem do longa anterior, mas também pelo Lorde Cutler Beckett (Tom Hollander), definitivamente o personagem que ganha mais lugar nesta nova trama. Há, ainda, a ilustre participação do roqueiro Keith Richards, guitarrista dos Rolling Stones, como o pai de Sparrow e guardião do sagrado e rigoroso código dos piratas (sim, eles têm um conjunto de regras, por incrível que pareça). Johnny Depp já havia declarado ter se inspirado também em Richards para compor o personagem.

Piratas do Caribe – No Fim do Mundo traz a mesma direção de Gore Verbinski, capaz de acompanhar muito bem as histórias piratas entre ondas e brigas de espada, fazendo, mais uma vez, com que o espectador consiga se sentir bem inserido na aventura, sempre com a ajuda de efeitos especiais de primeira linha. Por isso, o longa-metragem traz exatamente o que os admiradores dos dois filmes anteriores esperam, mas pode ser um tanto quanto cansativo, especialmente por conta da duração: são quase três horas de projeção. O que também cansa é a mesmice. Apesar da franquia ter trazido de volta aos espectadores a diversão das matinês dos anos 30, auge da popularidade dos filmes de piratas, a fórmula começa a ficar batida.

Evidentemente, Piratas do Caribe – No Fim do Mundo ainda é um tipo de entretenimento raro na maioria das aventuras – aquela diversão com qualidade, sabe? -, mas já é possível pensar que a fórmula esteja perdendo o fôlego. A conclusão do roteiro do filme dá margem à possibilidade de uma continuação, pelo menos, mas se a série pretende sair da trilogia, algumas coisas devem ser mudadas de forma mais radical para que o espectador não comece a se sentir entediado com as aventuras de Jack Sparrow e seus amigos.


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Análise >> Escola de Idiotas (School For Scoundrels)

Qual sua primeira reação ao ouvir falar de um filme chamado Escola de Idiotas? Baixarias, humor escatológico, produto comercial para adolescente americano retardado? Pois bem, acredite se quiser: Escola de Idiotas não tem nada disso. Claro, ele não vai mudar a vida de ninguém, muito menos ganhar a Palma de Ouro, mas trata-se de um bom divertimento que tem até algumas críticas sociais em seu subtexto, para quem quiser ver.

Obs: O filme é de Setembro de 2006, mas só agora chegou ao Brasil e pelo que sei só está sendo exibido em São Paulo.

Baseado numa comédia inglesa de 1960, Escola de Idiotas mostra que o dia-a-dia do jovem fiscal de trânsito Roger (Jon Heder) não é nada fácil. Sofrendo de ansiedade, lendo pilhas de livros de auto-ajuda e dono de uma profunda baixa auto-estima, o rapaz não tem coragem sequer de se aproximar da vizinha Amanda (Jacinda Barrett, de Poseidon), por quem nutre uma paixão platônica. Ele decide então se matricular num obscuro curso que promete transformar qualquer “perdedor” num “fera”. Porém, o professor (o sempre eficiente Billy Bob Thornton) é mau-caráter, o supra-sumo da truculência e adepto da filosofia do “vencer sempre, a qualquer custo”...

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Embora o filme tenha suas origens nos textos de um escritor britânico (Stephen Potter, mas isso não consta nos créditos), Escola de Idiotas pode ser visto também como uma grande crítica à própria cultura do “vencedor contra o perdedor”, tão presente na sociedade norte-americana, que despreza cruelmente os que chamam de losers (perdedores). Ou seja, uma cultura na qual o ser humano é medido apenas pelo que ele possui e pelo que aparenta, nada mais.

Por outro lado, quem quiser ver em Escola de Idiotas apenas uma divertida “Sessão da Tarde” também não vai se decepcionar. A boa notícia é que o filme é muito mais inteligente do que seu título sugere; a má é que este mesmo título pode se transformar num suicídio de marketing: quem estiver em busca de uma comédia escatológica estilo irmãos Farrelly vai se decepcionar; quem estiver em busca de uma diversão digna, não vai ver um filme com este nome.

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16 maio 2007

Análise >> Homem Aranha 3 (Spiderman 3)

As aventuras cinematográficas de Homem-Aranha tornaram-se referenciais em transposição de quadrinhos para cinema, especialmente quando o assunto está relacionado a super-heróis clássicos. Homem-Aranha 3 é a produção que completa a trilogia e, como era de se esperar, não deixa a dever para os filmes anteriores, muito pelo contrário. Com vilões mais poderosos e novos desafios para Peter Parker (Tobey Maguire), o longa-metragem traz de forma equilibrada romance, dramas pessoais e muitas cenas de ação. Além disso, a trama mostra mais maturidade ao conseguir lidar com tantos personagens e dramas complexos, sempre envolvendo dilemas morais relacionados ao desejo de vingança e as escolhas entre o que é certo e errado...

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Em Homem-Aranha 3, Parker já se encontra mais confortável no uniforme azul e vermelho. Se no filme anterior ele estava indeciso em relação ao seu novo papel para a cidade de Nova York, neste ele já está habituado a ser o amigo da vizinhança e a salvar os dias na Big Apple. Enquanto o romance com Mary Jane (Kirsten Dunst) parece caminhar para algo mais sério, ela continua tentando a sorte como atriz, conseguindo até um papel numa peça da Broadway. Mas as dificuldades não demoram a aparecer na vida do nosso herói. Desta vez, três vilões aparecem na vida do Homem-Aranha.

Primeiramente, temos Harry Osborn (James Franco), que está louco para vingar a morte de seu pai, Norman (Willem Dafoe). Para quem não se lembra, o ricaço vestia a armadura do Duende Verde em Homem-Aranha (2002) e a parafernália do vilão está disponível para seu filho, que não pensa duas vezes em usá-la contra o aracnídeo a fim de realizar sua vingança. Além disso, o bandido Flint Marko (Thomas Haden Church, indicado ao Oscar por Sideways – Entre Umas e Outras), que assassinou Ben Parker (Cliff Robertson) no primeiro filme, foge da prisão e vira o Homem-Areia após um acidente envolvendo testes nucleares. Para finalizar, um simbionte extraterrestre cai no Planeta e na vida de Peter Parker. Sua presença é capaz de exaltar o lado mais maldoso do super-herói, que encontra em si mesmo um inimigo.

Paralelamente, o fotógrafo freelancer Eddie Brock (Topher Grace, do seriado That ‘70s Show ) está louco para tirar o posto de Parker como o principal fotógrafo do Aranha para o jornal dirigido por J. Jonah Jameson (J.K. Simmons). Outra nova personagem é Gwen Stacy (Bryce Dallas Howard, de A Dama na Água). Nos quadrinhos, ela é a titular do coração de Peter Parker, antes de Mary Jane, mas nas aventuras cinematográficas só aparece agora para dividir sua atenção.

O roteiro de Homem-Aranha 3 consegue lidar bem com essa grande quantidade de novos vilões e personagens na vida de Peter Parker. As subtramas são confusas às vezes, mas bem desenvolvidas e resolvidas, tornando a produção mais do que um simples filme de super-herói: a complexidade tanto dos personagens quanto das situações eleva o longa-metragem a um patamar superior. A produção dosa com maestria os conflitos internos dos personagens, mostrando que atrás de superpoderes sempre há um ser humano, repleto de defeitos e dúvidas. Valores não tão nobres quanto à salvação de vidas - como o desejo de vingança pela morte do tio, a vaidade por conta da fama exacerbada e as vantagens de se ter superpoderes - tomam como nunca a mente do super-herói, especialmente quando ele é dominado pelo simbionte. O espectador também pode esperar alguns momentos cômicos, como já feito nos filmes anteriores.

Homem-Aranha 3 traz mais cenas de lutas, o que é óbvio, além das incríveis cenas de ação, as quais o diretor Sam Raimi sabe conduzir muito bem. Os já tradicionais vôos do aracnídeo entre os prédios e becos de Nova York são fluídos, muito bem acompanhados pelas câmeras. Como resultado, o espectador, mais uma vez, sente-se perfeitamente inserido na história e nas aventuras de Homem-Aranha.

Homem-Aranha 3, pois a aventura deixa um “gosto de quero mais”. Se depender da Sony Pictures, estúdio produtor do longa, podemos esperar mais uma trilogia aracnídea. O próprio Sam Raimi confirmou que a produtora pretende realizar mais filmes baseados nas aventuras do herói, mas não se sabe se ele mesmo ou o elenco segue nesta saga.


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15 maio 2007

Análise >> As Tartarugas Ninja - O Retorno (Teenage Mutant Ninja Turtles)

Após 13 anos, Leonardo, Michelangelo, Raphael e Donatello estão de volta aos cinemas, desta vez em animação digital, como há muito já se pedia. Antes de As Tartarugas Ninja – O Retorno, os três longas dos heróis mutantes - As Tartarugas Ninja (1990), As Tartarugas Ninja 2: O Segredo de Ooze (1991) e As Tartarugas Ninja 3 (1993) - foram realizados em live action, com atores reais.

Apesar do filme ser visualmente melhor e semelhante aos quadrinhos, o humor sarcástico, tão característico dos desenhos que fizeram sucesso na década de 90, foi deixado de lado. Isso torna difícil aceitar personagens tão sérios, mesmo por que as tartarugas ninja foram criadas pelo selo independente Mirage Comics como paródia de duas séries da Marvel: Novos Mutantes, sobre um grupo de mutantes adolescentes, e Demolidor, protagonizado por um clã ninja que defende Nova York...

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Em As Tartarugas Ninja – O Retorno, com a morte do arqui-rival Destruidor, os quatro irmãos estão perdidos quanto às suas ocupações: Donatello trabalha como help desk, resolvendo problemas de computador pelo telefone; Michelângelo anima festas de crianças com uma fantasia de tartaruga; Raphael está mais revoltado do que nunca: passa o dia inteiro dormindo e à noite varre os bandidos das ruas ao melhor (ou pior) estilo Justiceiro; e Leonardo foi enviado pelo Mestre Splinter para um treinamento na floresta da América Central para aprender a ser um grande líder. Indignada com a situação dos irmãos ninja, a repórter e fiel amiga April O'Neil vai em busca de Leonardo, mostrando a falta que ele faz para o desamparado grupo de heróis. Enquanto isso, estranhos eventos acontecem na cidade de Nova York e, para desvendá-los, Leonardo terá a difícil missão de redisciplinar seus companheiros e treiná-los antes da batalha que os espera.

O grande sucesso das Tartarugas Ninja deve-se ao desenho animado exibido na TV de 1987 a 1996, mais centrado no humor do que na violência, com cores mais alegres e luminosas, diferenciando totalmente do novo filme. Portanto, quem espera matar a saudade deixada pelos simpáticos e hilários mutantes verdes pode desanimar desde já. O foco da nova animação é o público mais novo, que acompanhou os episódios do desenho mais recente que estreou na televisão em 2003, mais violento, sombrio e com enredo mais complexo.

Enquanto perde-se de um lado, ganha-se de outro. As envolventes piadas foram deixadas de lado, mas as cenas de luta (uma delas ao som de Lights Out do P.O.D.) são mais trabalhadas e realistas, além das convincentes expressões faciais dos personagens e intensas cenas de ação. Caberá ao público definir que tipo de Tartaruga Ninja quer ver no cinema. Para os mais saudosistas, mantenham distância, enquanto os jovens devem sair correndo para a sala exibidora mais próxima.


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14 maio 2007

Análise >> 300

Um sucesso anunciado: o épico 300, de custos estimados em US$ 60 milhões, faturou nada menos que US$ 70 milhões somente no seu final de semana de estréia, apenas nas bilheterias dos Estados Unidos. E não poderia ser diferente. 300 é o típico produto hollywoodiano nascido para faturar.

O filme é baseado nos cultuados quadrinhos criados por Frank Miller e Lynn Varley, que por sua vez foram inspirados pelo filme "Os 300 de Esparta" (estrelado por Richard Egan, em 1962), que por sua vez se baseou nos textos em que o historiador Heródoto narra a Batalha de Termópilas, 450 anos antes do nascimento de Cristo. Ou seja, tantos séculos e tantas adaptações depois, hoje é impossível separar o que existe de história, mitologia e hollywoodianismos na aventura épica 300. E isso nem é importante. O filme vale mesmo pela sua estilização visual, na qual tudo é assumidamente exagerado, over e rebuscado. Com várias tomadas em câmera lenta que parecem pinturas medievais, a direção de arte de 300 utiliza ao máximo os recursos visuais que o cinema contemporâneo oferece, tudo para que a tela gigante do cinema se transforme numa versão ampliada e movimentada dos traços que o público já aprendeu a amar nas graphic novels de Miller. Afinal, quando a Warner decidiu entrar no projeto, ela sabia que o retorno financeiro só seria possível se o filme atraísse os milhões de seguidores que Frank Miller tem pelo mundo. Diga-se de passagem, a Warner relutou muito em aceitar tocar o projeto, já que os executivos da empresa o achavam muito parecido com (o fracassado???) "Tróia". Felizmente, tudo deu certo. Ainda que ambos falem da Grécia e sejam histórias míticas, 300 é infinitamente superior a Tróia...

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Com alta tecnologia e cenários virtuais de rara beleza, o filme narra a saga do guerreiro espartano Leônidas (Gerard Butler), que desobedece a tudo e a todos para encarar uma guerra insana contra o imperador Xerxes (Rodrigo Santoro), da Pérsia. Ele seleciona seus 300 melhores guerreiros e – literalmente – vai à luta, em nome da liberdade e da independência de Esparta, mesmo sabendo da enorme superioridade numérica de seu oponente.

O escocês Gerard Butler (O Fantasma da Ópera) tem o vigor necessário para comandar não apenas seu exército como também a maior parte da ação do filme. A britânica Lena Headey (Os Irmãos Grimm) desfila o charme, a beleza e a inteligência necessárias à rainha de Esparta e o nosso Rodrigo Santoro exibe uma androgenia e uma elegância soberba que os brasileiros já conhecem de Carandiru. Méritos para o diretor Zack Snyder, neste que é apenas o seu segundo filme para cinema – o primeiro foi "Madrugada dos Mortos".

Como filho assumido dos quadrinhos, o filme 300 carrega consigo toda a alma dos traços estilizados criados por Frank Miller. São batalhas monumentais que fazem do violento Apocalypto uma tarde no playground, sangue aos litros, cabeças cortadas em profusão, belíssimos adereços e acessórios, além de movimentações de câmera estudadas sob medida para os fãs de videogames. Tudo isso transforma uma batalha épica acontecida há quase 2.500 anos num entretenimento sob medida para a camada da população que mais consome cinema no planeta: os jovens.

A importância dos efeitos é tamanha que 300 levou 60 dias para ser filmado e mais de um ano em pós-produção. Nada disso é problema. Lamentável mesmo é a mensagem bélica embutida no filme. Pode-se dizer que a beleza de sua forma é inversamente proporcional à mensagem do seu conteúdo, que com o seu visual arrebatador procura vender ao público um conteúdo amargamente bélico e rancoroso. Nas entrelinhas, o filme tenta legitimar toda a violência que vem sido cometida pelo governo norte-americano, que briga, guerreia, invade e mata, sempre em nome de uma suposta liberdade. Não é nada difícil identificar as mensagens cifradas em 300:

Filme: O Rei Leônidas, de Esparta, quer guerrear contra a Pérsia, embora o político espartano Theron prefira uma saída diplomática para o impasse o qual chegaram as duas nações. Tentando legitimar sua atitude bélica, Leônidas recorre a uma espécie de conselho de magos e anciãos, como que pedindo permissão e "benção" para o ataque. O conselho rejeita. Leônidas desobedece a todos e parte para a guerra assim mesmo.

Realidade: Bush quer invadir o Iraque. Setores moderados do governo propõem outras saídas. A ONU não permite. Bush invade assim mesmo, desrespeitando abertamente o Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Filme: Em determinado momento da guerra, o povo Árcade, mostrado desde o início do filme como uma nação cheia de boa vontade, mas fraca como guerreira, abandona Leônidas e o exército Persa à sua própria sorte quando as coisas começam a ficar mais complicadas.

Realidade: Bush nunca escondeu o seu repúdio contra os países que se uniram ao EUA nos primeiros ataques ao Iraque que depois foram reduzindo ou até mesmo zerando seus homens no campo de batalha. O próprio ministro britânico Tony Blair, pressionado pela opinião pública, reduziu seus homens no Iraque, no mesmo momento em que Bush solicitava o envio de mais tropas.

Filme: Leônidas vai à guerra e deixa com sua esposa, a rainha Gorgo, a missão de fazer com que os políticos espartanos obtenham permissão para o envio de mais soldados, enquanto os famosos 300 seguram as pontas no campo de batalha.

Realidade: Como Bush em pessoa não vai ao campo de batalha, ele não precisa delegar essa missão a ninguém, mas o presidente dos EUA solicita repetidamente verbas e mais verbas para dar continuidade à sua guerra. Recentemente, em janeiro, ele pediu mais US$ 100 bilhões para dar prosseguimento à ocupação do Iraque.


Quando, na última cena de 300 (calma, não contarei nada que possa estragar o final), Esparta parte para um segundo, maior e mais destrutivo ataque contra a Pérsia, motivado pela coragem e audácia do primeiro ataque de Leônidas, fica clara a relação entre estes ataques e as duas guerras do Golfo, a primeira comandada por Bush pai, e a segunda por Bush filho.

Isso sem falar que quem narra toda a história é um guerreiro que perdeu um olho durante a batalha (logo, simbolicamente, só vê um lado da questão) e a Pérsia, hoje, equivale ao Irã, um dos atuais inimigos de Bush. Evidentemente, no filme, o guerreiro ensandecido Leônidas é o grande herói, enquanto o supostamente moderado Theron é pintado como fraco, corrupto e covarde.

É claro que a horda de adolescentes que está invadindo os cinemas do mundo inteiro para ver o filme não se importará nem um pouco com esta leitura política. A enorme maioria deles não faz idéia do que seja Esparta ou Pérsia, fora os que desconhecem quem seja Bush. É aí que mora o perigo... A tal história de "liberdade a qualquer custo em nome da democracia" já rendeu vários massacres de mentirinha nas telas nos cinemas e, de verdade, na vida real.


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