27 agosto 2007

Análise >> O Ultimato Bourne (Bourne Ultimatum)

Na mitologia grega, Jasão foi um príncipe deposto do trono paterno pelo seu próprio tio, Pélias, que temia ser morto pelo sobrinho. Pélias, porém, deu uma chance a Jasão: o trono lhe seria restituído se ele conseguisse cumprir a missão, tida como impossível, de buscar uma vestimenta de ouro num lugar distante. Jasão, construiu, então uma embarcação, com a qual se meteu numa série infindável de viagens aventureiras e tarefas heróicas em busca da tal vestimenta e a conseqüente restituição de sua coroa de príncipe.

O que tudo isso tem a ver com O Ultimato Bourne, que encerra a trilogia iniciada com A Identidade Bourne, continuada por A Supremacia Bourne? Talvez muita coisa. Vejamos, por exemplo, o nome do personagem principal: Jason Bourne. Jason é a tradução de Jasão e, assim como o mitológico herói grego, ele também é obrigado a deixar o “reino” que o criou (no caso, a CIA), empreender uma série infindável de viagens (a trilogia “passeia” por meio mundo) e realizar as mais difíceis tarefas para tentar regressar à sua casa e reaver sua coroa (no caso, sua identidade perdida e esquecida). Tem mais: no final da trilogia (sem querer estragar a surpresa de ninguém), Jason, literalmente, renasce em sua real identidade, numa significativa e simbólica cena sufocantemente filmada embaixo d’água. Uma referência ao parto? Talvez, já que a trilogia tem seu início e seu fim mergulhados no ambiente aquático...

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Assim, nenhum sobrenome soaria melhor para este personagem que “Bourne”, que tem praticamente a mesma sonoridade de “Born” (nascer). Jason Bourne seria o renascimento de Jasão e sua saga heróica. Ah, quer saber se Jasão realmente matou o tio Peléias? Veja O Ultimato Bourne e tenha uma pista. Viajei demais? Pode ser, mas o que é o cinema se não uma gigantesca e deliciosa viagem mágica?

Para quem não está nem aí com a mitologia grega, O Ultimato Bourne é um filme que cumpre o que promete: ação, uma ótima trama de espionagem, algumas perseguições espetaculares, personagens cativantes e, ainda por cima, uma proposta de reflexão: a moderna tecnologia acabou definitivamente com nossa privacidade? Seria mesmo possível a uma organização como a CIA rastrear todo e qualquer celular, todo e qualquer e-mail, de qualquer pessoa que ela desejasse?

O diretor Paul Greengrass (o mesmo do excelente Vôo United 93) não deixa que O Ultimato Bourne seja somente mais um filme de ação e espionagem: ele vai além. Sua câmera nervosa (tripé, nem pensar) e enquadramentos claustrofóbicos colocam a platéia no centro da ação, dando pouco espaço aos planos abertos e, conseqüentemente, às pausas para respirar. Existem, sim, aquelas famosas “paradas para explicar o filme”, ou seja, momentos de pouca inspiração cinematográfica nos quais alguém (os produtores, talvez) achou que seria necessário incluir uma longa conversa entre os personagens para “explicar” ao público o que está acontecendo. Faz parte: trata-se de uma concessão comercial que teme a pouca capacidade do público médio em entender uma boa trama somente por meio das imagens. Repare: quase todo filme americano tem isso. O Senhor dos Anéis é isso o tempo todo, mas essa já é outra história... E, como acontece com a maioria dos blockbusters do momento, a música não pára. Nunca. Inclusive de estar tocando até agora.

Vale lembrar que o tema da falta de privacidade não é exatamente novo, já tendo sido levantado com muita qualidade em A Conversação (de Francis Ford Coppola, nos anos 70) e, mais recentemente, em Inimigo do Estado (1998), ambos estrelados por Gene Hackman. Mas, neste momento de intensa e alucinada globalização virtual, vale a pena retomá-lo. O que me lembra: o nome “verdadeiro” do agente Jason Bourne é David Webb. Webb? Rede? Internet? Calma... Jasão Renascido já foi viagem suficiente para uma única crítica.

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