21 fevereiro 2008

Pré-análise >> "Senhores do Crime" retrata bastidores da máfia russa

O diretor David Cronenberg e o roteirista Steven Knight se apropriam de alguns clichês do gênero -- como um herdeiro incompetente e um esperto homem de confiança do patriarca -- para levar o longa a outro patamar, acima da média e longe de obviedades.

O espectador entra neste submundo na companhia de Anna (Naomi Watts), uma parteira que, sem querer, envolve-se com os mafiosos. É um mundo que fascina e assusta nas mesmas proporções.

A história acontece basicamente entre o Natal e o Ano Novo, começando com o nascimento de uma menina sob os cuidados de Anna e a morte da mãe da bebê. A parteira encontra o diário da moça, que era russa, e espera achar alguma pista sobre sua família...

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O diário está em russo, mas Anna tem um tio que fala a língua e vai ajudá-la na tradução. O cartão de um restaurante perdido dentro do caderno pode ser uma pista preciosa sobre quem é a moça que morreu no parto.

Ao chegar ao local, Anna percebe que o ambiente é familiar e aconchegante, comandado pelo patriarca Semyon (Armin Mueller-Stahl). Mas também não demora muito a perceber que ele é um chefão da "vory v zakone", a máfia russa, e chefia as operações de dentro de seu estabelecimento, que serve como fachada.

Cercando o patriarca, há o filho herdeiro incompetente Kirill (Vincent Cassel) e o homem capaz de fazer o serviço sujo e limpar a sujeira, Nikolai, interpretado com sutileza por Viggo Mortensen, que já havia trabalhado com o diretor em "Marcas da Violência" (2005).

Como o outro filme assinado pelo roteirista Knight, "Coisas Belas e Sujas", este é um drama sobre questionamentos morais, tráfico de pessoas e as misérias humanas que emergem da sordidez.

Em "Senhores do Crime", o tema central é o comércio sexual que ganhou contornos globais, em especial envolvendo moças da antiga União Soviética.

Através do diário da morta, Anna e seu tio ficam sabendo mais do que deveriam. Ele prefere que ela esqueça tudo e finja que nada aconteceu. Mas a parteira está obcecada com as circunstâncias do nascimento daquele bebê e não desiste.

Nesta jornada de Anna, Nikolai é tanto o anjo da guarda, quanto o exterminador. Como fazia em "Marcas da Violência", Mortensen opera em duplo sentido. Pouco se sabe ao certo quem ele é ou como trabalha.

Suas tatuagens -- o sinal de status dentro da organização -- podem dar uma pista, mas, no fundo, ele pode ser uma pessoa tão obcecada quanto Anna.

"Senhores do Crime" resulta de uma combinação peculiar: o humanismo do roteiro de Knight com a meticulosidade da direção de Cronenberg, que nunca traz uma nota de consolo.

O resultado causa estranheza e, num primeiro momento, o filme pode parecer frio. Com o passar do tempo, aspectos sombrios e também sublimes da natureza humana ficam mais nítidos.

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